Lesões no ombro exigem atenção dobrada em períodos de competições

Em tempos de competições esportivas, como os atuais Jogos Pan-Americanos, é comum que os atletas sofram lesões devido aos esforços físicos durante as prolongadas horas de treino. Alguns esportes que exigem movimentos repetitivos do braço podem causar lesão na estrutura cartilaginosa que se encaixa, de forma precisa, na esfera do úmero, o que chamamos de Lesão Labral ou lesão SLAP, como é popularmente conhecida no meio esportivo. Embora o risco desse tipo de lesão seja maior em atletas, esse problema também pode acontecer com quem não pratica esporte, mas realiza trabalhos braçais.

“Impactos diretos no ombro, tais como quedas e movimentos repetitivos acima da linha do membro, causam sobrecarga e, consequentemente, uma lesão no labrum. Tal encaixe permite que a articulação permaneça estável durante todo o movimento, quando há lesão o ombro se torna menos estável e propenso a sair do lugar”, explica o ortopedista da Rede de Hospitais São Camilo, Leandro Gregorut. Os esportes que mais causam esse tipo de problema são natação, handebol, vôlei, basquete, beisebol e tênis. Além das atividades esportivas, outras práticas que necessitem de esforço físico atenuante do braço também podem causar lesões.

O especialista comenta os principais sintomas da Lesão Labral. “É possível que o paciente sinta dor aguda ou uma sensação de agulhada no ombro durante alguns movimentos. Outro sintoma é uma sensação de instabilidade no ombro, parecendo que vai se deslocar quando a pessoa eleva o braço”, alerta. O diagnóstico é feito com base no quadro clínico e histórico do paciente. A partir de alguns movimentos com o ombro o médico pode “causar” o aparecimento dos sintomas. “Geralmente, o paciente sente uma fisgada profunda quando o braço é colocado acima da cabeça”, revela Gregorut.

O segundo passo para o diagnóstico é o exame de Artroressônancia Magnética, que consiste em uma ressonância magnética do ombro com injeção de contraste especial na articulação envolvida. Outra opção seria a Ressonância Magnética de Três Tesla, exame realizado em uma máquina mais potente que as usuais, não sendo necessária a injeção de contraste na articulação.

Opções de tratamento

Em um primeiro momento o tratamento se dá através de medicações anti-inflamatórias e analgésicas a fim de controlar a dor e inflamação. Dependendo da gravidade e tamanho da lesão, existem opções específicas de terapias. “Quando o quadro é inicial e a lesão é pequena pode ser iniciado um programa de tratamento fisioterápico para diminuição da dor. Na sequência, um programa de fortalecimento muscular, de ganho de amplitude de movimentos e de alongamento é realizado para que o fisioterapeuta estimule os músculos que envolvem a articulação. Este período de tratamento pode durar de quatro a seis semanas”, esclarece o ortopedista da Rede de Hospitais São Camilo, Gustavo Rocha.

Caso as dores sejam muito intensas ou o paciente tenha uma grande demanda de utilização do ombro, tais como os atletas, a cirurgia está indicada. Neste caso a técnica de escolha é a Artroscopia de Ombro. “Este procedimento simplesmente remove as áreas que estão soltas de tal maneira que o Labrum cicatriza-se junto ao osso e há melhora dos sintomas”, conta Rocha.

Quando a Lesão Labral é grande ou profunda, pode se tornar instável, causando dor e aumento do dano com os movimentos do ombro. Neste caso, é recomendada a reparação. “Há várias técnicas para o reparo da Lesão Labral, a mais indicada é com o uso de Âncoras de Fixação, pequenos parafusos de 2,9 mm de diâmetro, que são utilizados para reatar o labrum ao osso. Usualmente as Âncoras são feitas de um material bioabsorvível e não necessitam ser retiradas, sendo absorvidas pelo organismo com o passar dos meses”, orienta o especialista.

O programa de reabilitação varia de acordo com o tipo e gravidade da lesão, podendo levar de um a três meses para que o paciente retorne às suas atividades de vida diária, sem dor e com total uso do ombro. Mesmo os tratamentos não cirúrgicos devem ser acompanhados regularmente. Caso contrário, o quadro de dor inicial poderá retornar ou até mesmo piorar. “Assim que o paciente conseguir atingir certos parâmetros, os movimentos da atividade esportiva são reintroduzidos e um treino específico é criado para o retorno ao esporte ou as atividades de trabalho”, conclui Rocha.

- Leandro Gregorut, ortopedista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo e médico da Seleção Brasileira de Handebol de 2010 a 2014.

- Gustavo Rocha, ortopedista da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo e médico da Seleção Brasileira de Handebol.